terça-feira, 1 de junho de 2010

Dia de Mudança

Hoje me deparei com a mudança, vi o quanto é difícil mudar, mudar hábitos, formas, vícios, danças e tradições. Parece que a gente nasce com uma espécie de bloqueio, com uma espécie de estigma que nos faz procurar traçar um caminho rotinado, padronizado. Tentar sair desse caminho é o que diferencia os heróis dos comuns, os ricos, dos miseráveis, os sábios, dos meramente informados.
Como eu dizia, hoje eu me deparei com a mudança literalmente. Mudar de casa é uma mudança grande eu imagino. Hoje eu vi como tenho coisas obsoletas que o tempo foi guardando, vi que a importância das coisas é extremamente temporal, as coisas morrem no tempo, assim como as pessoas.
Encontrei velhos brinquedos, aos quais eu tanto amava quando menino, encontrei meus primeiros versinhos e poeminhas, cheios de rimas bobas e inocência...Poesia inocente, como eu sinto falta disso. Hoje em dia até minha própria poesia carrega minha culpa. Encontrei meus velhos livros sobre vampiros, hoje eu abandonei minha obsessão pelos vampiros e acabei me tornando um deles de fato...um vampiro de mim mesmo, que sugo meu próprio sangue diariamente e o cuspo por não agradar-me o seu gosto.
Encontrei minhas velhas cordas de violão, já tão enferrujadas, tão comidas pelo tempo, tão desafinadas pelo passar dos anos...
Quando se muda de casa, estranho, a gente joga fora um monte coisas obsoletas, mas também leva consigo outro tanto delas. Isso é o apego, é o carinho que se tem pela coisa em si, ou pelo momento que ela possa ter representado...uma velha pelúcia mofada é lixo; uma velha pelúcia mofada que a décadas atrás foi prova de um grande amor é símbolo. Nós seres humanos carregamos coisas obsoletas por termos as transformado em símbolos de algo ou alguém. O pior dessa moral da história não são as coisas, mas nós mesmos...Nós mesmo quando nos tornamos obsoletos pra alguém acabamos nos tornando símbolos do passado.
Mudar de casa é mudar-se em si mesmo, pois a casa antiga de alguma maneira se agrega ao morador, entra nele e não que sair...agora tenho que me acostumar com novos degraus, com a posição dos interruptores de luz, com as portas de vidro que refletem minha imagem fantasmagórica caminhando na insônia da madrugada atrás de um copo de água. Tenho que me acostumar a tomar outro caminho quando chego da rua...imagine só que mal seria bater à casa antiga pensado ainda lá morar e se deparar com os novos moradores, habituando-se sem dúvida também ao novo convívio de lar.
Mudar de casa é começar a marcar um novo tempo no tempo, é recomeçar coisas do zero, comprar móveis novos sendo que os antigos nem eram ruins; simplesmente pelo fato do “novo”; o novo combina consigo mesmo, coisas novas cheiram a coisas novas...não é que as coisas antigas cheirem mal, é que elas apenas não tem mais cheiro algum.
Pode-se dizer uma infinidade de aforismos, frasesinhas a respeito da mudança de lar..mas trazendo a palavra pra dentro de si mesma é por isso que mudar de casa não é transferir-se, não é deslocar-se, remanejar-se, desmorar-se, mudar usa o sentido mais abrangente do significado, quando a gente muda, a gente muda.


Sander Ventura em 28/08/09

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